Caminhos da Saúde: Centros de referência expandem acesso de imunobiológicos especiais no Ceará

Instalação de unidades em Sobral e no Cariri fortalecem o Programa Nacional de Imunizações (PNI) em mais regiões do estado

Escrito por Marcos Moreira , marcos.moreira@svm.com.br
Portadores de quadros clínicos especiais contam com quatro Cries no Ceará
Legenda: Portadores de quadros clínicos especiais contam com quatro Cries no Ceará
Foto: Thiago Gaspar/Sesa
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Um dos princípios da universalização da saúde está no atendimento a portadores de quadros clínicos que demandam serviços especializados, incluindo a disponibilização de vacinas. Nesse sentido, os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Cries) são instalados em todo o País para expandir o acesso e fortalecer o Programa Nacional de Imunizações (PNI).

De acordo com o Ministério da Saúde, esses núcleos são voltados para pacientes com imunodeficiências congênita ou adquirida e de outras condições especiais de morbidade ou exposição a situações de risco. Isso engloba doenças que comprometem o sistema imunológico, como HIV, câncer, cardiopatia, diabetes mellitus e hipertensão, além de pessoas transplantadas.

Um dos pioneiros na implantação do serviço, o Ceará oferta imunobiológicos especiais desde 1994. No ano passado, foram registrados quase 15 mil atendimentos nas unidades instaladas no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), a primeira a funcionar no estado, e no Hospital Geral de Fortaleza (HGF).

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atendimentos realizados nos Cries do Hias e do HGF em 2023

Desde o início de 2024, os cearenses contam também com dois novos Cries: um no Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral, e outro no Hospital Regional do Cariri (HRC), em Juazeiro do Norte. As unidades foram inauguradas em março, mas iniciaram os encaminhamentos de modo virtual desde janeiro, registrando 571 atendimentos à população do interior no trimestre. 

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A instalação desses núcleos vai ao encontro do projeto estadual de regionalização da saúde e descentralização dos serviços. É o que defende a coordenadora de Imunização (Coimu) da Secretaria da Saúde (Sesa), Ana Karine Borges.

"Essas duas regiões são as que nós temos o maior quantitativo populacional e uma maior necessidade desse olhar para a oferta de vacinas especiais. Não que essa população era desassistida, mas esses centros vêm dessa necessidade de otimizar. Os municípios da área de abrangência são contemplados oportunamente, uma vez que o centro fica mais próximo”, explica. 

ACESSO

Natural de Jati, o agricultor Francisco Ferreira, de 59 anos, é morador do município de Barbalha, que fica na região do Cariri. Ele passou por um transplante de medula óssea em julho de 2023 e, desde então, tem precisado tomar uma série de vacinas, como BCG, tríplice viral e pneumocócica.

Antes do Crie no Hospital Regional do Cariri, ele precisava buscar atendimento na capital, o que representava uma série de dificuldades. 

“Agora eu tomo aqui mesmo. Diminuiu muito as despesas para ir e ficar lá, já que não voltava no mesmo dia e tinha que se hospedar. No começo do mês vou tomar mais duas vacinas. A diferença é muito grande”, evidencia Francisco.

O agricultor comemora a chegada do centro mais perto de casa. Ele lembra que a equipe de saúde que acompanha o seu tratamento o informou logo no início do atendimento, sendo um dos primeiros a utilizar os serviços do Crie na região norte.

Pacientes do Cariri passaram a contar com um Centro de Referência na região
Legenda: Pacientes do Cariri passaram a contar com um Centro de Referência na região
Foto: Helene Santos/Sesa

“[Profissionais do Crie] me avisam, aí eu vou lá. Quando eu chego, sou atendido rapidamente. Tem ajudado muito no meu tratamento, porque eu preciso tomar essas vacinas e agora tem aqui perto”, avalia. 

Como Francisco, pacientes transplantados integram o grupo para o qual os Centros de Referência são indicados. Para Alfredo Carneiro Ricardo, enfermeiro que atua na articulação do serviço do Crie do HRC, expandir o acesso a esses imunizantes caracteriza-se como uma medida importante, principalmente pensando no momento vivido por essas pessoas. 

“A descentralização do Crie facilitou de forma bastante notória o acesso dos imunobiológicos especiais à população do interior, que são indivíduos que possuem condições clínicas específicas e maior vulnerabilidade para o acometimento de doenças infecciosas. Por esse motivo se justifica a utilização desses imunobiológicos que possuem o maior custo, para que se possa imunizar de forma individualizada cada indivíduo que possui uma maior vulnerabilidade”, ressalta. 

DESCENTRALIZAÇÃO

Antes dos centros do Interior, os pacientes do Ceará que necessitavam de imunizantes especiais precisavam buscar atendimento nos Cries do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e no Hospital Geral de Fortaleza (HGF).

Responsável pelo Crie do Hias, Tallita Muniz Cavalcante aponta que a unidade foi responsável por uma média de 900 atendimentos por mês em 2023. Nesse cenário, portadores de HIV e pacientes que irão realizar algum transplante de órgão foram os grupos que mais buscaram atendimento no núcleo da capital.

A gestora indica que os dois novos Cries foram estrategicamente projetados para atender as pessoas do Interior, em uma tentativa de minimizar o deslocamento e otimizar o tempo, principalmente pensando nas questões logísticas.

“Aos poucos a gente vai vendo que esses dois novos Cries estão sendo procurados para atender esse público. Esse é o objetivo de buscar a regionalização, a descentralização do serviço para não ficar uma coisa tão restrita à capital e assim disseminar mais para o interior e contemplar esses pacientes especiais”, ressaltou Tallita Cavalcante.

Objetivo é expandir o acesso aos imunobiológicos especiais
Legenda: Objetivo é expandir o acesso aos imunobiológicos especiais
Foto: Helene Santos/Sesa

ATENÇÃO

A dona de casa Naira Maria Neres, de 27 anos, mora com as filhas gêmeas em Irauçuba, na região Norte do Ceará. Ana Lis Neres e Maria Isis Neres nasceram prematuras, em 29 semanas de gestação, e precisavam tomar a hexavalente, vacina que previne difteria, tétano, coqueluche, meningite, poliomielite e hepatite B.

O imunizante não estava disponível na cidade em que elas residem. Assim, o Centro de Referência do Hospital Regional Norte, em Sobral, foi indicado para atender a necessidade de imunização das meninas.  

“Foi muito importante, através do Crie as minhas filhas poderão tomar as vacinas que elas têm que tomar. Recomendaram aqui pois as bebês precisavam tomar a hexavalente e não tinham no meu município. Elas tomaram a primeira e agora tem mais duas doses”, afirma Naira.

A hexavalente é um dos mais de 20 tipos de vacinas disponíveis nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. Entre eles, há imunizantes de alto custo que não estão disponíveis nos postos de saúde, sendo exclusivos para a demanda das unidades. 

“Essas vacinas têm um componente de prevenção. São vacinas especiais que ainda não é possível liberar para toda a população, porque existem grupos muito bem específicos. Os critérios são definidos no comitê técnico de imunização, por meio de perfil epidemiológico e avaliação de custo e benefício. Então, avaliando a situação de risco a que essas pessoas estão expostas, o objetivo é fornecer uma proteção maior, considerando a vulnerabilidade naquele momento”, ressalta Karine Borges.

COMO CONSEGUIR ATENDIMENTO?

Antônio Carlos Costa, de 40 anos, também ressalta a importância de ter acesso ao serviço na cidade em que reside. Ele está na fase pré-transplante renal, na qual realiza exames, e precisou tomar as vacinas pneumo 13, meningo acwy e dT no Crie de Sobral. 

“É de suma importância porque facilita muito a imunização e se torna de fácil acesso. Antes da existência do Crie na nossa cidade a gente dependia do posto de saúde e nem sempre tinha as vacinas que precisávamos tomar. A avaliação é muito satisfatória, pois os profissionais são muito atenciosos”, comenta Antônio Carlos Costa.

Ele foi encaminhado ao Crie pelo posto de saúde que costuma ser atendido na cidade. Essa é uma das etapas importantes para os pacientes que devem receber imunobiológicos especiais. 

A Coordenação de Imunização do Ceará oriente que, para ter acesso ao atendimento, os pacientes precisam dar entrada na solicitação no posto da Atenção Primária mais próximo à sua residência, de onde serão encaminhadas a prescrição médica e outras documentações necessárias para a Secretaria Municipal de Saúde.

O procedimento segue junto à Superintendência Regional de Saúde, sendo encaminhado para a avaliação do Crie. A partir disso, a vacina chegará no posto de saúde para administração no paciente.

ACOMPANHAMENTO

Além de disponibilizar vacinas especiais, os Centros de Referência também atuam na farmacovigilância. A atividade é caracterizada pela identificação, avaliação e prevenção de efeitos adversos ou problemas relacionados ao uso de imunizantes, conforme definição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Segundo o Ministério da Saúde, os Cries buscam garantir os mecanismos necessários para elucidar os casos de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (Esavi), que são ocorrências médicas indesejadas após a vacinação, não tendo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina ou outro imunobiológico.

Cries buscam fortalecer o Programa Nacional de Imunizações (PNI) no Ceará
Legenda: Cries buscam fortalecer o Programa Nacional de Imunizações (PNI) no Ceará
Foto: Thiago Gaspar/Sesa

“Além de ofertar essas vacinas especiais, os centros também funcionam como uma rede de apoio para que a gente possa fortalecer o programa de vacinação dentro do estado. Então, consideramos a necessidade de realizar essa vigilância de eventos adversos para que a gente possa ter cada vez mais dados que comprovem o perfil de segurança e eficácia dessas vacinas que são ofertadas para a população”, salienta Karine Borges.

Tallita Muniz Cavalcante explica que os pacientes são acompanhados via sistema, em que ficam registradas as informações detalhadas referentes ao processo de imunização. Com isso, são coletados todos os dados acerca das vacinas administradas e os tipos de reações. 

“Nós realizamos uma análise e emitimos um parecer de reação inerente ao produto, que são aquelas reações que são esperadas para cada vacina ou se foi uma contraindicação de doses posteriores. Quando é uma reação que pode ter sido causada pela vacina, uma reação assim mais grave, a gente contraindica as doses posteriores ou substitui por outras, seja de outros laboratórios ou de outra estruturação, a depender de cada caso”, esclarece.

R$ 120,67 mil
Investimento estadual para viabilização e manutenção de cada Crie, incluindo equipamentos, vacinas e imunoglobulinas

EXPANSÃO

Os Cries nos hospitais de Sobral e do Cariri fazem parte de um plano estadual que prevê a implantação de outras duas novas unidades no Ceará. De acordo com a Sesa, as regiões do Litoral Leste/Jaguaribe e Sertão Central devem receber núcleos de referência em 2025. O objetivo é fortalecer a rede de saúde por todo o Estado.

“Nossa perspectiva é fortalecer cada vez mais a operacionalização da vacinação nessas regiões, chegar cada vez mais perto da população, garantir cada vez mais o acesso a essas vacinas especiais e mais proteção e saúde. Isso considerando ainda a necessidade de buscar a confiança novamente no programa de vacinação, fortalecendo e levando centros de referências para a população cearense”, enfatiza Karine Borges. 

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