Copom decide hoje sobre nova Selic de olho na política fiscal

Haverá divergência, segundo estima o mercado. O quadro fiscal será agravado pelo desastre natural do Rio Grande do Sul.

Legenda: A reconstrução de cidades no Rio Grande do Sul agravará o quadro fiscal do governo brasileiro
Foto: Nelson ALMEIDA / AFP

Há uma grande expectativa no mercado financeiro sobre a decisão que tomará hoje, quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a respeito da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic. 

Há duas certezas: a primeira é de que não haverá convergência, ou seja, a decisão que vier a ser tomada não será por unanimidade dos 9 integrantes do Copom; a segunda é quanto ao percentual que será aplicado à redução da taxa Selic: o mercado aposta numa queda de 0,25 ponto percentual, mas também aposta que haverá um ou dois conselheiros que preferirão um corte de meio ponto percentual.

Além do cenário pintado pelos juros da aquecida economia dos Estados Unidos, que seguem elevados; e além dos problemas gerados pela política fiscal do governo, que segue gastando mais do que arrecada, surgiu, para agravar o problema, a catástrofe natural no Rio Grande do Sul, cuja agricultura produz boa parte dos alimentos consumidos pelos brasileiros, principalmente arroz e soja. 

Para a recuperação da economia gaúcha e, mais do que isto, para a reconstrução das centenas de cidades destruídas pelas enchentes, o governo da União começa a adotar as primeiras providências de liberação de recursos financeiros. Para isto, o Congresso Nacional está examinando e vai aprovar uma espécie de orçamento de guerra, cujas despesas não entrarão nas limitações de gastos, ou seja, não aumentarão o déficit das contas públicas.

A situação no Rio Grande do Sul piora à medida que a ajuda humanitária promovida pela população de todo país não pode chegar aos seus destinos porque as estradas federais, estaduais e municipais que cortam a geografia gaúcha estão cortadas. Exemplo: não é possível hoje acessar a capital do estado, Porto Alegre, nem de automóvel, nem de avião – o aeroporto internacional Salgado Filho está interditado por tempo indeterminado: suas pistas permanecem inundadas.

Os operadores do mercado e os economistas ainda não podem calcular a extensão do prejuízo que as enchentes no Rio Grande do Sul causarão à economia do estado e do país. Porém, eles já entenderam que a situação fiscal do governo será agravada.

Em 2020 e em 2021, o governo da União gastou quase R$ 1 trilhão para socorrer empresas, trabalhadores, estados e municípios por causa dos efeitos da pandemia. Na recuperação e na reconstrução da infraestrutura rodoviária, das escolas, das universidades, dos hospitais e das próprias cidades gaúchas, haverá um investimento ainda não estimado, mas que será bem menor do que o aplicado no tempo da pandemia. Até agora, porém, não há um levantamento sobre os prejuízos. 

O que há de certeza é que essa reconstrução demorará vários anos, com uma ameaça grave: o clima no mundo mudou, e os cientistas estão prevendo novos eventos naturais como o deste ano. Isto nos leva a lamentar que a própria Prefeitura de Porto Alegre não tenha investido, no ano passado e neste ano, um só centavo em obras de prevenção de enchentes.

Os rios gaúchos, assim como os rios catarinenses, paranaenses, paulistas, fluminenses, mineiros, baianos e cearenses estão agora revoltados porque ao lado de suas margens construíram-se cidades e destruíram-se as matas ciliares. Essas matas são como os cílios dos nossos olhos, elas protegem os rios e riachos, impedindo que caiam dentro do seu leito as sujeiras sólidas.

Como o homem destruiu essas matas ciliares, o leito dos rios foi invadido por todo tipo de sujeira e sua profundidade desapareceu, fazendo com que qualquer enchente leve suas águas para outros caminhos, inundando tudo o que está em volta, como agora acontece no Rio Grande do Sul.

Bem, voltemos ao início deste comentário. Hoje, o Copom do Banco Central reduzirá a taxa de juros Selic. No comunicado que acompanhará essa divulgação, saberemos o que pensam os integrantes do colegiado a respeito do que acontecerá com a política monetária diante do novo quadro fiscal desenhado pelo desastre natural, econômico, financeiro, social e ambiental no Rio Grande do Sul.

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