Busca por validação externa começa na infância e impacta a vida adulta
Dependência pode gerar um grande sofrimento emocional que se manifesta de formas diferentes ao longo da vida.

É comum recebermos no consultório pessoas em sofrimento, por depender emocionalmente da aprovação e validação dos outros. Essas pessoas apresentam a autoestima fragilizada, são inseguras, se tornam alvo de relacionamentos tóxicos ou superficiais e possuem muito medo de errar, por entender que o erro é um fracasso pessoal.
Essa busca pela validação externa é reflexo de uma ferida emocional profunda. Desde muito cedo, as crianças aprendem a buscar aprovação em seu ambiente. O sorriso de um cuidador ao dar os primeiros passos, o aplauso ao recitar uma música, ou até mesmo o olhar de reprovação diante de um erro, são mensagens poderosas que moldam como elas percebem a si mesmas e aos outros. Essa necessidade de validação, embora natural em certo grau, pode se transformar em um ciclo de dependência emocional que persiste até a vida adulta.
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Como a busca por validação começa na infância?
Nos primeiros anos de vida, a autoestima da criança é formada a partir do olhar do outro. Quando os cuidadores oferecem reconhecimento equilibrado e incondicional, a criança desenvolve um senso de valor próprio. No entanto, quando o afeto está condicionado ao desempenho, à obediência ou ao sucesso, a criança aprende que precisa "merecer” amor e aceitação.
Frases como “Só vou te amar se você for um bom menino” ou “Você só é inteligente quando tira nota alta”, criam a ideia de que o valor pessoal está vinculado ao que se faz, e não ao que se é.
Esse padrão de receber elogio apenas quando se comporta “perfeitamente” repetido ao longo do tempo, alimenta a necessidade de validação constante. A partir daí uma crença perigosa vai se formando: “eu só sou digna de amor quando correspondo às expectativas.”
Na vida adulta, outras crenças podem ir se formando, ainda subjacentes à validação externa: “Eu não sou suficiente sozinha”; “O que as pessoas pensam de mim, me define”; “Eu preciso sempre agradar para ser amada”; “Se eu for quem eu sou, ninguém vai me querer”, dentre outras.
As consequências dessa dependência, é um grande sofrimento emocional, na qual o adulto vive uma vida que não é sua, se desconectando de quem é, pois está ocupado demais em agradar aos outros.
Como os pais podem ajudar as crianças a desenvolver validação interna?
1. Ofereça afeto incondicional. Demonstre amor e aceitação independentemente do comportamento ou do desempenho. Em vez de “Estou orgulhoso porque você tirou 10”, afirme “Estou orgulhoso pelo seu esforço e dedicação".
2. Valide emoções, não apenas ações. Ajude a criança a nomear e expressar seus sentimentos, reforçando que todas as emoções inclusive as “negativas” são válidas. Por exemplo: "Eu entendo que você está frustrado. Quer conversar sobre isso?" “Você tem razão de estar com raiva por esse motivo, só temos que ver uma outra forma de expressar”.
3. Estimule a autonomia. Permita que a criança tome pequenas decisões apropriadas à idade, reforçando sua capacidade de resolver problemas e confiar em si mesma. Aqui é importante desenvolver a independência desde cedo, ajudar nas atividades domésticas ajuda na autoestima, a criança percebe que é capaz.
4. Elogie o processo, não só o resultado. Valorize a persistência, a criatividade e a coragem de tentar, independente do desempenho. Isso ajuda a criança a entender que seu valor vai além de conquistas específicas.
Seguindo essas orientações, os cuidadores ajudarão muito as crianças a desenvolver um fortalecimento interno e autoestima que irá permanecer até a vida adulta. Para os adultos, não é tarde para se perceber e resgatar a própria voz interior. É um processo que começa com a consciência e se fortalece com a prática do autocuidado e autocompaixão.
Se você percebe em si mesmo uma busca constante por aprovação, vale a pena se perguntar: "De quem eu estou esperando validação?" e "Como posso fazer para eu mesma me validar?” Quando cultivamos pensamentos que validam nosso valor próprio e respeitam nossas necessidades, fortalecemos a percepção de quem somos e o modo como nos relacionamos com o mundo.
Ao cuidar de si, você reafirma, todos os dias, que merece estar em primeiro lugar em sua própria vida.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.